Postado por: FACULDADE DE TECNOLOGIA DE GARÇA - FATECGARCA

Postado em: 14/09/2013

Fonte: JORNAL COMARCA DE GARÇA (HTTP://JORNALCOMARCA.COM.BR/?PAGINA=NOTICIAS&ID_MATERIA=169305&ID_SECAO=29)


Aulas são direcionadas a alunos da terceira idade e têm apresentado resultados positivos

Alunos do curso de inclusão digital: as distâncias começam a ficar cada vez menores

“Não há educação fora da sociedade e não há homens no vazio”. O pensamento do educador Paulo Freire ilustra muito bem os objetivos dos projetos em andamento na Faculdade de Tecnologia de Garça.

Através das professoras Nancy Guanaes Bonini, coordenadora do curso de Tecnologia em Mecatrônica Industrial, e Maria Alda Barbosa Cabreira, dezenas de homens e mulheres com mais de cinquenta anos, que, por alguma razão, pararam de estudar ou que sentiram a necessidade de conhecer o mundo digital, estão retornando aos bancos escolares. Neste caso, universitários.

Os projetos Inclusão Digital da Terceira Idade, sob responsabilidade de Maria Alda, e Escrever e Ler – Alfabetização Básica de Adultos, sob a coordenação de Nancy Guanaes, têm ajudado a transformar a realidade de várias pessoas que haviam desistido dos estudos ou que não queriam mais sentir-se à margem dos conhecimentos de informática.

As aulas de inclusão digital acontecem desde 2006, e a cada ano há uma turma diferente, assim a rotatividade dá mais oportunidades a um número maior de interessados – embora alguns alunos permaneçam nas turmas por vontade própria. O senhor Dorival Baraldi é um exemplo de aluno persistente, que faz questão de “repetir o ano”, pois gosta muito do tempo que passa nas aulas. Vivendo há muitos anos em Garça, seu Dorival viu nas aulas de informática uma oportunidade para “não ficar de fora da modernidade”. Por intermédio da Associação dos Aposentados ele ficou sabendo do curso e agora, como aluno, comemora cada aprendizado: “Com essa evolução dos tempos, me vi na obrigação de acompanhar. Aproveito tudo o que aprendo aqui, pois tenho filhos morando fora, então me comunico com eles, mando e recebo emails. Tive uma grande alegria na semana passada quando abri um email e vi uma foto da antiga casa onde morei em Jaú. Ela ainda existe!”, conta o divertido aluno.

Conversar e matar as saudades de familiares que vivem longe, aliás, é um dos principais motivos que atraem os alunos, a necessidade de se comunicar, de estar em contato com filhos e netos. Antônia Ferreira Zancopé recorreu à tecnologia para estar mais perto do filho, que mora no exterior: “Eu não sabia nada de computador. E meu filho foi com as crianças para os Estados Unidos, aí eu disse pra mim mesma que eu tinha que aprender, tinha que fazer um curso. Agora eu entro no Facebook, vejo as fotos... Que maravilha, o mundo fica tão pequeno. Estou muito feliz e recomendo a todos. Se a pessoa quiser permanecer em contato com o mundo, tem que ser assim. Esse é o caminho”.

Com o apoio de estagiários do curso de Tecnologia em Mecatrônica Industrial, os “alunos longevos”, como dizem as coordenadoras, aprendem não somente a se conectar com o mundo, mas a exercitar a convivência; periodicamente eles participam de atividades como visitas técnicas, passeios e sessões de teatro ou contação de histórias com o grupo Pirlimpimpim, conhecem, do lado de fora, a história da cidade. “Me convidaram para vir, e estou gostando muito. Agora acho que preciso de um computador para continuar exercitando o que aprendi. E gosto também da convivência com as pessoas, gosto de vir aqui”, afirma a aluna Katsuko Owada.

E os aprendizes, que estão na casa dos cinquenta, sessenta e setenta, têm realmente vontade de aprender e consciência da importância em se acompanhar as mudanças ao seu redor, e não há receio que impeça, conforme afirma dona Manoela Carrascosa Idalgo: “Eu sempre quis aprender, e quando fiquei sabendo, vim, porque queria conversar com os parentes, ficar em contato. E hoje eu vejo as fotos, converso, leio notícias, pego receitas. Os meninos (estagiários) são pacientes, ajudam muito, aí fica fácil de aprender. Eu acho que nunca é tarde. Tem gente que pensa que não vai conseguir, mas sempre é tempo. Eu não vejo a hora de chegar os dias da semana de vir pra cá”, afirma a aluna.

E os aplicados longevos, além de receber conhecimento, também passam adiante tudo o que aprendem no laboratório, como a senhora Ruth de Souza de Oliveira, que agora auxilia a amiga estudante de Direito a fazer pesquisas na internet, e que com o que vem aprendendo, já ganhou uma promessa de emprego: “Minha amiga está no último ano de Direito, e ela batalha mesmo, tem 58 anos e trabalha varrendo rua! Mas ela também quis aprender, está fazendo faculdade, e eu ajudo, entro com ela na internet para fazer pesquisas. Ela me disse que vai me chamar para ser sua secretária!”.

 

Cadernos, lápis e força de vontade

São várias as razões que levam as pessoas a interromper seus estudos, mas também são vários os motivos que as fazem voltar à escola. E o projeto Escrever e Ler – Alfabetização Básica de Adultos, propicia essa chance de começar de novo.

Segundo a coordenadora Nancy, o processo é lento, pois como se tratam de adultos com mais idade, a frequência nas aulas às vezes é comprometida, ou por questões de saúde ou outros problemas. Mas os resultados e as conquistas pessoais de cada um, são um estímulo para que o projeto, iniciado em 2007, continue. Para que os alunos de ambas as turmas possam frequentar as aulas, a Fatec conta com o apoio da Prefeitura, que cede os ônibus para transportá-los. A faculdade entra com a estrutura, estagiários, laboratórios e um lanche no meio da tarde (oferecido em conjunto com a Associação dos Aposentados).

Numa classe “dominada” por mulheres, as lições de vida misturam-se às lições da professora Maria Tereza Fogagnoli (com o auxílio do estagiário de Pedagogia do IESG, Vitor Melo), nas duas aulas semanais. Uma história que exemplifica muito bem a realidade de muitos que pararam de estudar, é a da dona Geralda dos Santos Vicente, de 65 anos: “Quando eu era menina, a professora mandava eu ler na lousa, e eu tinha um pouco de dificuldade, não acertava, então ela me mandava ajoelhar no milho. Um dia, quando voltei pra casa e contei isso pro meu pai, ele disse que então eu parasse de estudar, que dali pra diante a enxada ia ser a minha escola. E deu uma enxada na minha mão”.

Ela conta que na infância não sentia tanta falta dos estudos, mas conforme foi crescendo, foi percebendo a importância da escola. “Depois eu comecei a sentir falta. Agora com 65 anos eu consigo escrever meu nome, já guardei de cabeça”, comemora dona Geralda, seus primeiros passos.

Já dona Elza Bertoldo usa as lições para aplicar dentro de casa: “Eu escuto na televisão as receitas, e já vou anotando. Eu estou usando o que estou aprendendo!”. E dona Laura Venâncio, a mais longeva das alunas, com 89 anos, é também uma das mais animadas: “Escrevo meu nome e sobrenome. A cabeça da gente às vezes fica meio enrolada, mas estou dando conta!”.

As comemorações individuais por conquistas que para muita gente parecem sem importância, para esses alunos têm muito valor. É a recuperação de um tempo que parecia perdido. A professora Maria Tereza explica que é natural que elas tenham um pouco de dificuldade, é como se fossem crianças indo à escola pela primeira vez. Algumas delas chegaram a estudar na infância, mas já não se lembram mais, têm que começar do zero. O andamento do aprendizado é um pouco mais lento, mas os resultados são logo percebidos. O que pode atrapalhar é a interrupção: “Alguns alunos tiveram que parar o curso para cuidar de netos, ou porque ficaram doentes, outros tiveram que voltar às colheitas, e aí temos que começar tudo de novo. Mas eles são entusiasmados e eu sinto o progresso deles. Antes da alfabetização eles tinham dificuldades até para ir ao supermercado, não entendiam algumas embalagens, ou se confundiam na hora de pegar ônibus. Mas estamos vendo como eles têm vontade e estão aprendendo”, conta a professora.

 

Promovendo a educação com cidadania

Os projetos e a atenção dada a todos os alunos, tanto do grupo de inclusão digital, quando da alfabetização, através dos professores, estagiários e coordenadoras, bem como de todos os funcionários da Fatec se justifica pela valorização da formação educativa e social dos indivíduos.

Por meio dos projetos sociais, a Faculdade de Tecnologia de Garça tem o objetivo de estender o conhecimento à toda a comunidade, formando não somente alunos, mas cidadãos mais dignos e participativos dentro da sociedade.

Além de proporcionar os conhecimentos de informática e das letras, a instituição preocupa-se com o resgate da autoestima de cada um, de seu acesso à cultura e de seu modo de relacionar-se com os demais, criando um ambiente amigável e respeitoso. Ao mesmo tempo em que desperta nos alunos estagiários o espírito de cooperação.

É importante ressaltar que os projetos oferecem aulas gratuitamente ao município de Garça e à região, buscando importantes parcerias como a Prefeitura Municipal, Associação dos Aposentados e Pensionistas, Biblioteca Municipal e as próprias professoras e coordenadoras que ajudam a repor os materiais escolares.

Os longevos também têm a oportunidade de conhecer coisas além dos laboratórios e salas de aula, através de palestras com psicólogos, engenheiros florestais, advogados, fisioterapeutas, nutricionistas, terapeutas holísticos e contadores de histórias; do plantio de árvores e visitas técnicas à estação ecológica dos Caetetus, ao SAAE, a fazendas, à nascente do Rio do Peixe (onde confraternizam e falam sobre ecologia), festas juninas da faculdade, almoços e danças orientais, amigo-secreto e formaturas, além de oficinas.

Graças a essa união, os responsáveis pelos projetos percebem os resultados satisfatórios e o contentamento dos alunos e o orgulho que sentem por estarem inseridos na vida de uma instituição de ensino superior e exercendo seu papel dentro da sociedade.