Postado por: UNIVERSIDADE DO OESTE PAULISTA - UNIDADE PRESIDENTE PRUDENTE - UNOESTE

Postado em: 12/09/2016

Fonte: SITE DA UNOESTE


Assentados são beneficiados por projeto de saúde da boca

Mutirão atende 38 casos para confecção de moldes de próteses ou com necessidade cirúrgica para-protética

Nesta segunda-feira (12) começam as confecções das primeiras próteses de ribeirinhos do Assentamento Laranjeiras, após o mutirão realizado no fim de semana por professores, técnicos, estudantes e egresso do curso de Odontologia da Unoeste. Atividade que se insere na Semana de Responsabilidade Social que é uma iniciativa da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), à qual a Associação Prudentina de Educação e Cultura (Apec) é vinculada, na condição de mantenedora da Unoeste. Os serviços odontológicos foram prestados sábado (10) e domingo (11) para 38 pessoas na Escola Municipal de Ensino Fundamental Vereador Edson de Oliveira Garcia, que fica no assentamento a cerca de 30 km do perímetro urbano de Narandiba e a 5 km da barranca do rio Paranapanema.

A ocupação de 105 lotes de 8 alqueires começou em 1982, com a transferência de 38 famílias de ribeirinhos que tinham sido assentados pela Companhia Energética de São Paulo (Cesp) no município de Euclides da Cunha (SP). O reassentamento foi feito em decorrência da busca de terras férteis, para abrigar desalojados pelas usinas hidrelétricas construídas no Pontal do Paranapanema. A Cesp comprou a Fazenda Laranjeiras, dividiu os lotes e como parte da infraestrutura fez escola e posto de saúde, onde a Prefeitura mantém uma de suas duas Estratégias de Saúde da Família (ESF) que, entre os serviços, presta atendimento básico odontológico. Casos de urgência e emergência são encaminhados para a Unidade Básica de Saúde (UBS), na sede do município; conforme o coordenador municipal Fernando César de Carvalho.

Existe carência em serviços especializados como os de prótese e cirurgias bucais. Há dois anos foi possível atender 45 usuários da saúde pública pelo Programa Sorria São Paulo, do governo paulista, entre os quais 20 do Laranjeiras. Uma situação motivadora da primeira ação da extensão no assentamento, pelo recém-criado Projeto Raposo Tavares do curso de Odontologia, por conta de convênio firmado entre a universidade e o poder público municipal. O alcance social é atestado pelo expressivo número inicial de atendidos, considerando que pelo sistema público poderia levar pelo menos dois anos para os 38 atendimentos, de acordo com o professor José Luiz Parizi. Também é corroborado pela necessidade dos assentados, a exemplo de Urbano Ferreira, de 69 anos, e Maria Antônia da Silva, de 81 anos; ambos há 25 anos no assentamento.

Silva conta que nos anos de 1970 extraiu os dentes e ficou apenas com cinco na frente. Anos mais tarde passou a usar dentaduras, mas agora está precisando de novas. Para ele a extensão universitária chegou em boa hora. Seu elogio é para o atendimento, dizendo receber atenção especial, nos serviços de saúde pública. Acredita que as novas dentaduras irão proporcionar melhor condição de mastigação, além de melhorar a aparência com os dentes novos e, com isso, aumentar a autoestima. Originário de Porecatu (PR), Silva trabalhava com gado leiteiro e agora atua com cria e recria. Maria Antônia, do município de Panelas de Miranda no agreste pernambucano, tem uma fala comovente, em relação à sua dentição, mesmo tendo trocado as dentaduras há dois anos.

Ela conta que os dentes não cortam. Por isso, precisa desfiar a carne para comer e, ainda assim, “às vezes fica um bolo na boca e tenho que jogar fora”. Está ansiosa pela nova prótese dentária, para poder viver melhor os anos restantes de uma vida sofrida de quem aos 4 anos de idade foi para as ruas pedir esmola, após perder o pai e a mãe ficar doente. Aos 7 anos tornou-se trabalhadora rural, na condição de “boia fria”, para ajudar a sustentar a mãe e quatro irmãos. Casou-se aos 22 anos e mudou-se para o interior de São Paulo, na região do Pontal. Conta que criou 30 filhos, dos quais gerou 14 e destes 11 estão vivos, um mora no mesmo sítio, com ela e marido que teve trombose nas pernas e não sai de casa, e outro no mesmo assentamento. Agora, seu grande sonho é algo comum para a maioria das pessoas: poder mastigar um bife.

O professor Parizi comenta que entrar em contato com essa realidade representa muito para quem já é profissional e também para os que estão buscando sua formação. Nessa etapa estiveram envolvidos oito estudantes, um do 7º termo e sete do 8º, como é o caso de Gabriele Andrade Santos, moradora de Anhumas. “É um conhecimento a parte, fora da sala de aula. A gente aprende, inclusive, conviver com a população, com as necessidades que as pessoas têm”, diz. Habituado à extensão durante os quatro anos do curso, o especialista em prótese e implante José Antonio de Araújo Júnior, egresso da turma de 2002 da Faculdade de Odontologia da Unoeste, esteve no Laranjeiras como voluntário.

Contratado pela prefeitura de Flora Rica e com consultório em Irapuru, além de prestar serviços nas duas cidades e morar em Presidente Prudente, Júnior ainda encontra tempo para o voluntariado. “O ensino que recebi, com várias práticas de extensão, me sensibilizou para o atendimento às pessoas carentes”, conta. A professora de saúde coletiva Juliane Avansini Marsicano comenta que o Projeto Raposo Tavares escolheu o Laranjeiras seguindo preceitos do Ministério da Saúde, que classifica os assentados como pessoas vulneráveis. Ao falar sobre a continuidade do projeto na região do Pontal do Paranapanema, anuncia para o próximo ano também o envolvimento da pesquisa com o mestrado em Odontologia, a ser implantado em março.

Em caráter interdisciplinar, alunas do mestrado e do doutorado em Ciência Animal, respectivamente a médica endocrinologista Fernanda Marin Soares e a bióloga Cristiane Martinez Ruiz Pegoraro, ofereceram orientações aos assentados e aplicaram questionário sobre a destinação de lixo eletrônico para uma pesquisa orientada pela Dra. Gisele Alborghetti Nai. Na produção dos moldes da prótese estiveram envolvidos dois técnicos da Unoeste: Paulo Cezar Braiani de Christófano e Marcos Aparecido Geraldo Volpato. A caravana da Unoeste chegou na manhã de sábado (10), trabalhou durante o dia, pernoitou na escola e no domingo (11) o atendimento foi até às 13h30.

A parceira da Unoeste com o poder público municipal estabelece o fornecimento de material de consumo pela Prefeitura. O material instrumental utilizado pertence à universidade e alguns estudantes optaram por utilizar o seu próprio. Em nome da Unoeste, o convênio foi assinado pelos pró-reitores Acadêmico, Dr. José Eduardo Creste, representando a Reitoria; de Extensão e de Pesquisa Dr. Adilson Eduardo Guelfi. No âmbito da responsabilidade social, existem outras duas parcerias entre Unoeste e Prefeitura de Narandiba: O Integrar Unoeste, do curso de Agronomia, implantado em 2005 e que em 2011 rendeu o Selo Green Food aos produtores e o Prêmio Ciências sem Fronteiras à Unoeste; e o Vet Social, do curso de Medicina Veterinária, implantado este ano com a finalidade de cuidar de animais e melhorar o rebanho de vacas leiteiras.

 

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